quinta-feira, 8 de maio de 2008

Francisco Sá Carneiro


Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro, nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934 e faleceu em 4 de Dezembro de 1980, quando o avião em que seguia, acompanhado por várias pessoas, se despenhou em circunstâncias ainda hoje cabalmente esclarecidas.

A sua personalidade fez dele um dos mais importantes políticos portugueses da segunda metade do século XX e a sua estranha e prematura morte transformou-o numa espécie de mito.

Nascido no seio de uma família pertencente à burguesia portuense, licenciado em Direito aos 22 anos de idade, desde muito cedo revelou um enorme gosto pela política e tornou-se um importante elemento dos movimentos de cariz mais progressista ligados à Igreja Católica e neste universo que começou a defender para Portugal a instauração de uma Democracia Parlamentar.

Aos 35 anos foi eleito deputado, integrando as listas da única formação política instituída à altura – 1969 – a “Acção Nacional Popular”.

Estava-se em plena “Primavera Marcelista”, facto que além de ter permitido a sua integração nas citadas listas, permitiu-lhe ser co-fundador de uma ala de cariz mais liberal dentro do universo dos deputados, sendo um dos principais impulsionadores de um projecto de revisão constitucional que pressupunha a democratização, em moldes ocidentais do País.

Cedo percebendo que nem Marcelo Caetano tinha força nem o regime tinha vontade de se reformular, renunciou ao seu mandato de deputado, iniciando em 1973 uma colaboração com o Expresso, traduzido numa coluna de opinião que a Censura começou a marcar de forma cerrada.

Sá Carneiro começou a ser atraído pelas democracias nórdicas, especialmente a sueca, de cariz parlamentar e de matriz social-democrata, e começou a construir um pensamento político assente na síntese entre as teses sociais-democratas e os condicionalismos específicos do País.

Após o 25 de Abril de 1974 fundou, conjuntamente com Francisco Pinto Balsemão e Magalhães Mota, o Partido Social Democrata, de que foi o seu primeiro Secretário-Geral, dando início a uma das mais importantes instituições partidárias do actual regime português.

Foi eleito Deputado à Assembleia Nacional Constituinte e depois Deputado para a I Legislatura da Assembleia da República.

Sá Carneiro tinha pressa. Tinha pressa em democratizar o País verdadeiramente, em limpar do universo da decisão política os resquícios militares, transformando-se um crítico do Conselho da Revolução, órgão de controlo político, formado essencialmente por militares ligados à revolução de Abril e muito influenciado pelo Partido Comunista Português.

O seu sentimento de urgência, aliado à sua personalidade impulsiva e muitíssimo corajosa, depressa o tornaram incómodo quer para establishment quer mesmo para muitas personalidades do seu próprio partido, do qual foi obrigado a renunciar à liderança em 1977 – ano em que o PPD se transforma em PSD.

Além do seu sentido crítico permanente sobre o satus quo de Portugal, o seu envolvimento sentimental com Snu Abecassis, uma sueca radicada em Portugal e editora – levou a que os seus adversários políticos, da esquerda à direita, lhe lançassem ataques violentíssimos, de natureza pessoal, que apesar de o agastarem contribuíram para o seu fortalecimento e endurecimento de posições, transformando-o numa homem de convicções inabaláveis, que nem a doença que o fazia sofrer muito fisicamente abalava.

Reeleito Secretário-Geral do PSD em 1978, Francisco Sá Carneiro, conjuntamente com Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa do CDS e Gonçalo Ribeiro Teles do PPM, formou a coligação Aliança Democrática que venceu as eleições legislativas de 1979, o que fez dele Primeiro Ministro de Portugal em 3 de Janeiro de 1980.

Tendo como objectivo “uma maioria parlamentar e um presidente para Portugal”, e possuindo uma visão do Estado claramente civilista e uma enorme ânsia reformadora, as suas relações com o Presidente da República de então, General Ramalho Eanes, começam a ser cada vez mais difíceis e atingem o momento de ruptura quando Sá Carneiro de decide promover como candidato presidencial, sustentado politicamente pela AD, o General Soares Carneiro.

A sua morte, em plena campanha presidencial a 4 de Dezembro de 1980, deixou um vazio muito grande à direita do Partido Socialista, já que não apareceu, até hoje, nesse universo político um líder tão carismático, clarividente e corajoso como ele.

Francisco Sá Carneiro foi um social-democrata consciente das especificidades portuguesas, foi um homem de rupturas, acreditava na integração europeia mas era, em simultâneo, um cultor da soberania nacional.

O que ele teria feito após a derrota do General Soares Carneiro nas eleições presidenciais, se não tivesse morrido, ninguém sabe, mas o mal estar crescente em relação a ele que se vivia no seio do próprio PSD, indiciam que muito provavelmente se teria assistido a mais uma ruptura e muito provavelmente a configuração do espectro partidário português, hoje, não seria o mesmo....mas isso é mera especulação.

3 comentários:

Isabel Diogo disse...

Teríamos tido um PSD menos liberal?

Teríamos no parlamento europeu, por exemplo, os deputados do PSD sentados noutra ala?

Uma verdadeira social democracia?

Tiago Loureiro disse...

Julgo que este post, não obstante a sua inegável qualidade, tem um erro: Sá Carneiro não morreu a 4 de Agosto, mas sim a 4 de Dezembro de 1980.

MNN disse...

Claro Tiago, foi gralha. No início do texto a data estava correcta.