sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Humanismo











O Humanismo é um misto de ideologia e corrente filosófica* que assenta no personalismo assente numa plataforma ética específica que encontra uma enorme correspondência na chamada mundividência cristã, caracterizada por um grande dinamismo que resulta do entendimento que a matriz de determinados valores e ideais apesar de terem valência intemporal podem e devem ser perspectivados conforme a evolução do conhecimento e da compreensão humana.
A ligação ao cristianismo, que impõem uma ética de respeito pelo próximo, pela vida, e assenta em valores como a solidariedade, liberdade, partilha, justiça e responsabilidade, que defende a democracia como regime mais correcto enquanto enquadrador de sociedades, que encontra no trabalho o meio legítimo de obtenção de riqueza e que impõem que essa mesma riqueza seja justamente distribuída, não obriga a que os “humanistas” sejam necessariamente religiosos e que perspectivem o cristianismo numa lógica informada pela fé (este vosso criado é um humanista filosoficamente cristão, absolutamente arreligioso).
O Humanismo inspirou ao longo dos séculos inúmeros pensadores, como por exemplo Tomás Morus, Erasmus, Pascal, Kierkegaard, Jacques Maritain, entre muitos outros e hoje em dia assume-se como uma alternativa clara quer ao marxismo quer ao neo-liberalismo, ao admitir o direito do indivíduo à felicidade, recusando o conceito de classe e de luta de classes, ao defender e proteger a propriedade privada, ao recusar o capitalismo desregulado e autofágico, ao defender uma economia ao serviço do Homem e não o contrário, ao exigir que o Estado aja pró-activamente no combate a todas as formas de exclusão social, ao obrigar a uma ética rigorosa no serviço público, ao defender intransigentemente a igualdade de oportunidades e o direito à manifestação clara da diferença, ao defender o auxílio social aos mais desfavorecidos assente no princípio da equidade – quem é ajudado tem que contribuir para o bem da comunidade organizada que o ajuda - , ao acreditar num sistema de impostos universal mas diferenciado, ao possuir uma visão ecológica do mundo e ao defender o conhecimento como a única via para o progresso e desenvolvimento da Humanidade.

O III Manifesto Humanista (2003) – sucessor do primeiro elaborado em 1933 – assenta nas seguintes premissas:
O conhecimento do mundo deriva da observação, da experimentação e da análise racional;
O Homem é parte integral da natureza e resulta de uma processo evolutivo não determinado;
Os valores éticos derivam da necessidade e do interesse humano submetido à experiência;
A satisfação com a vida emerge da participação do indivíduo ao serviço dos ideias humanos;
O Homem é um ser social por natureza e encontra significado nas suas relações;
O esforço para melhor a sociedade aporta felicidade ao indivíduo.
(ilustrações: Morus, Erasmus, Pascal e Kierkegaard)
* a professada pelo autor

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Francisco Sá Carneiro


Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro, nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934 e faleceu em 4 de Dezembro de 1980, quando o avião em que seguia, acompanhado por várias pessoas, se despenhou em circunstâncias ainda hoje cabalmente esclarecidas.

A sua personalidade fez dele um dos mais importantes políticos portugueses da segunda metade do século XX e a sua estranha e prematura morte transformou-o numa espécie de mito.

Nascido no seio de uma família pertencente à burguesia portuense, licenciado em Direito aos 22 anos de idade, desde muito cedo revelou um enorme gosto pela política e tornou-se um importante elemento dos movimentos de cariz mais progressista ligados à Igreja Católica e neste universo que começou a defender para Portugal a instauração de uma Democracia Parlamentar.

Aos 35 anos foi eleito deputado, integrando as listas da única formação política instituída à altura – 1969 – a “Acção Nacional Popular”.

Estava-se em plena “Primavera Marcelista”, facto que além de ter permitido a sua integração nas citadas listas, permitiu-lhe ser co-fundador de uma ala de cariz mais liberal dentro do universo dos deputados, sendo um dos principais impulsionadores de um projecto de revisão constitucional que pressupunha a democratização, em moldes ocidentais do País.

Cedo percebendo que nem Marcelo Caetano tinha força nem o regime tinha vontade de se reformular, renunciou ao seu mandato de deputado, iniciando em 1973 uma colaboração com o Expresso, traduzido numa coluna de opinião que a Censura começou a marcar de forma cerrada.

Sá Carneiro começou a ser atraído pelas democracias nórdicas, especialmente a sueca, de cariz parlamentar e de matriz social-democrata, e começou a construir um pensamento político assente na síntese entre as teses sociais-democratas e os condicionalismos específicos do País.

Após o 25 de Abril de 1974 fundou, conjuntamente com Francisco Pinto Balsemão e Magalhães Mota, o Partido Social Democrata, de que foi o seu primeiro Secretário-Geral, dando início a uma das mais importantes instituições partidárias do actual regime português.

Foi eleito Deputado à Assembleia Nacional Constituinte e depois Deputado para a I Legislatura da Assembleia da República.

Sá Carneiro tinha pressa. Tinha pressa em democratizar o País verdadeiramente, em limpar do universo da decisão política os resquícios militares, transformando-se um crítico do Conselho da Revolução, órgão de controlo político, formado essencialmente por militares ligados à revolução de Abril e muito influenciado pelo Partido Comunista Português.

O seu sentimento de urgência, aliado à sua personalidade impulsiva e muitíssimo corajosa, depressa o tornaram incómodo quer para establishment quer mesmo para muitas personalidades do seu próprio partido, do qual foi obrigado a renunciar à liderança em 1977 – ano em que o PPD se transforma em PSD.

Além do seu sentido crítico permanente sobre o satus quo de Portugal, o seu envolvimento sentimental com Snu Abecassis, uma sueca radicada em Portugal e editora – levou a que os seus adversários políticos, da esquerda à direita, lhe lançassem ataques violentíssimos, de natureza pessoal, que apesar de o agastarem contribuíram para o seu fortalecimento e endurecimento de posições, transformando-o numa homem de convicções inabaláveis, que nem a doença que o fazia sofrer muito fisicamente abalava.

Reeleito Secretário-Geral do PSD em 1978, Francisco Sá Carneiro, conjuntamente com Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa do CDS e Gonçalo Ribeiro Teles do PPM, formou a coligação Aliança Democrática que venceu as eleições legislativas de 1979, o que fez dele Primeiro Ministro de Portugal em 3 de Janeiro de 1980.

Tendo como objectivo “uma maioria parlamentar e um presidente para Portugal”, e possuindo uma visão do Estado claramente civilista e uma enorme ânsia reformadora, as suas relações com o Presidente da República de então, General Ramalho Eanes, começam a ser cada vez mais difíceis e atingem o momento de ruptura quando Sá Carneiro de decide promover como candidato presidencial, sustentado politicamente pela AD, o General Soares Carneiro.

A sua morte, em plena campanha presidencial a 4 de Dezembro de 1980, deixou um vazio muito grande à direita do Partido Socialista, já que não apareceu, até hoje, nesse universo político um líder tão carismático, clarividente e corajoso como ele.

Francisco Sá Carneiro foi um social-democrata consciente das especificidades portuguesas, foi um homem de rupturas, acreditava na integração europeia mas era, em simultâneo, um cultor da soberania nacional.

O que ele teria feito após a derrota do General Soares Carneiro nas eleições presidenciais, se não tivesse morrido, ninguém sabe, mas o mal estar crescente em relação a ele que se vivia no seio do próprio PSD, indiciam que muito provavelmente se teria assistido a mais uma ruptura e muito provavelmente a configuração do espectro partidário português, hoje, não seria o mesmo....mas isso é mera especulação.